Wednesday, October 11, 2017

A arte.
A arte corre-me nas veias. É certo.
Por vezes vejo-me em confronto com as palavras, os movimentos, os olhares desfocados dos que me rodeiam. Eles olham. Olham sempre, com atenção e julgamento de todos os passos que eu dou.
Nunca sei quem eu sou. Olho vezes sem conta, respiro, tento de novo. Parece que tudo está errado, mas tudo está certo. As palavras deambulam por aquelas paredes brancas, sala vazia e espelhos que fujo em espreitar. Tenho medo do que não sou. Mais do que aquilo que sou, tenho receio de não ser o que sempre quis ser.
Devagar. É lento o caminho. Dou passos lentos pela sala, penso no que vou dizer e mais uma vez… um tom monótono, sem sentimento, deslocado do texto. É sempre assim. Expectativas furadas, esfaqueadas por sonhos e completamente ensanguentadas.
Eu vivo arte. Vejo o belo. Conjugo a música, os espaços com corpos contorcidos, palavras e palavras… das mais belas palavras de amor. A tragédia. A morte. A minha própria morte antes de entrar em palco. Todo o meu ser fica a palpitar, a destruir-se por dentro, uma excitação de entrar e… Ai! O amor pela emoção nunca foi tão intenso. Tirem-me a vida, por favor, se assim não for como penso. Odeio ter esta sensação de achar que tudo é bonito, tudo pode acontecer, tudo é real mas de uma fantasia muito própria, muito minha. Em parte, desejo que me arranquem a alma, lavem-na no rio mais puro e inocente, voltem e tragam-me a vontade de sair do meu corpo tímido.  Quero ser destemida! Sempre. Atirar-me à personagem, deixar o meu corpo fluir, nunca ter medo. Não ter medo de como as palavras possam soar, como a voz ecoa… A emoção transcende todos os medos da procura pela perfeição.


Ao som de Saint-Saens: The Swan (Le cygne) – Carnival of the Animals



Sunday, September 3, 2017

São 06:15.
Subi e desci as ruas familiares do Porto. Aquelas ruas que em tempos me acompanhaste. Não deixo o sentimento desvanecer, mesmo que a minha mente tente lutar contra o meu pensamento sobre ti. É difícil. Ouço o vento a tocar nas árvores, o céu a clarear, os carros da madrugada em andamento. Já tudo mudou. Já não sou a mesma, a minha vida deixou de ser a mesma. A tua inexistência tornou-se cada vez mais real e vi-me a querer esquecer-te para conseguir ser feliz. Teria sido muito mais simples se não tivesse vivido o meu primeiro amor, se tivesses sido apenas uma pessoa passageira, sem qualquer tipo de significado ou intensidade na minha vida. Acho que foste a pessoa mais especial da minha vida ou apercebi-me tarde da tua particularidade que me fez obcecar por ti. Foi tarde, no momento em que os meus sentimentos cortavam a pele, que descobri que conseguia chorar por não te ter ao meu lado. Encontrei-me perdida, sempre na expectativa de ter-te ao meu lado, desesperada por sentir os teus braços enlaçados nos meus, os teus lábios nos meus, os nossos pensamentos em perfeita sintonia. Estava completamente apaixonada. Percebo pela consequência do nosso fim que não podia sentir nada mais que um amor puro e belo e utópico. 
Agora são as gaivotas. Gritam tanto quanto o meu coração. Parece querer sair do meu corpo, deixar de me pertencer. Sinto quase um nojo de ser eu, quando me apercebo que sou eu dentro de mim e que corpo é este, quem sou eu. Sou apenas mais um corpo com a alma sufocada e cheia de sede pela liberdade. Cortaste-me a liberdade. Tiraste-me o amor, tiraste tudo o que me fazia feliz e agora, estás por aí, noutra cidade, feliz, com outras pessoas, com outros pensamentos. Todos eles fogem de mim. Já não existo para ti. Vivo para escrever-te palavras de amor, mas é um buraco negro que suga todas as minhas emoções, que negras que elas são em saber que tu não tens um único pensamento sobre a minha pessoa. 
Escrevo, farta, farta de sentir. E vou deitar-me a querer odiar-te. Mas não vou conseguir e vou continuar a sufocar até ao dia em que te vais sentar à minha frente e dizer tudo o que tens a dizer. Todas as verdades, todos os sentimentos, o que ainda resta de nós, o que vai ser de nós…Já sei que nada. Não espero nada. Não espero voltar para ti. Não quero. Não queria querer. Mas sei que não quero. E mais uma vez, acabo a noite a pensar em ti quando sei que não vou surgir nem uma vez na tua cabeça.Odeio-te, odeio-te, odeio-te. E é apenas isso que quero deixar em mim neste momento.
Vou deitar-me. São 06:39. Patrick Watson acompanhou este texto. Os dias passam, as noites também e eu sonho pelo dia em que deixas de existir para mim. Não porque quero, mas amar-te é um murro na alma. Destrói-me a cada minuto que passa. 


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